quarta-feira, junho 04, 2025

Carta Aberta às ex-alunas e ex-alunos no final do semestre...

 
Queridas alunas, Queridos alunos...

Assim que escrevi a palavra queridas alunas nesta carta, pensei em vocês que estão aí do outro lado, pessoas jovens, cheias de esperanças, de expectativas e com alguns medos... E quando me deparei com essa imagem, logo extinguiu-se o ímpeto inicial que me fez escrever este bilhete. Confesso que a princípio, eu estava motivado por um sentimento de indignação e desapontamento. Mas, falar sobre isso, dando visibilidade e energia a um grupo barulhento que não passa de uma massa desordenada, perdida e sem propósito para a própria vida, seria injusto com vocês todas, e todos, que se esforçam o máximo e se doam diariamente a uma sociedade que não entrega o que lhes promete e lhes promete bem menos do que vocês merecem.

 

Percebi, ao me referir a vocês como queridas alunas e queridos alunos, que gastar meu português com desabafos e queixas sobre o fracasso do meu encontro com essa massa disforme, birrenta, desinformada e conformada, seria desperdiçar a oportunidade de falar com vocês; de usar a língua do nosso colonizador para oferecer os elogios que vocês merecem e que eu nunca lhes entreguei abertamente em sala de aula, por pura covardia. Pelo receio de incomodar os olhos medíocres, que a tudo vigiam, com a lupa da inveja, em busca de nossos pequenos "defeitos de fabricação" e nossas suaves diferenças, para condenar como falhas pecaminosas...

Pois bem. Vou lhes entregar nesta carta, tudo que deveria ter lhes dado durante o tempo em que compareceram de coração aberto, com a honestidade de serem quem vocês são, mas sem a arrogância de tentar impor a verdade de vocês aos outros. Vocês, queridos alunos e alunas que foram ao encontro do novo, com o recurso que tinham, e aceitaram de boa vontade a diferença que receberam... Agradeço de coração. Agradeço a vocês, que não se renderam às facilidades da Inteligência Artificial que, muitas vezes, não é nada além de burrice orgânica. Vocês, queridas e queridos, que não transformaram o exercício de apreender na tarefa burocrática de aglomerar uma lista de tópicos repetitivos e intermináveis, palavras e chavões estereotipados, em volta de uma imagem falsa de ser humano com cinco dedos iguais e nenhum polegar, ou gráficos e letras aleatórios que passam um ar de cientificidade, mas não informam nada… Continuem assim! fujam dessas armadilhas, façam tudo com o coração. Para isso, usem a sua cabeça e a própria mão.


 


  

 

 

 

 

 

 Agradeço demais a vocês que - apesar de toda exploração em que vivem, nos seus empregos e pequenos negócios, e nas suas rotinas e dramas familiares, entenderam que as nossas aulas eram uma oportunidade de emancipação do pensamento para vocês mesmas e não apenas uma outra corrente da qual vocês tinham que se libertar, pagando o tributo ao Mestre - ou o derrotando - para passar de fase…vocês que mostraram disponibilidade e abertura para aprender com o próprio esforço, que tiveram sagacidade para recorrer ao professor, em busca de um testemunho e não de julgamento.

Eu sei que vocês entenderam que o professor - ou a professora - pode ser uma autoridade sem precisar ser autoritário. Desde que seja visto, não como um Juiz, mas como uma testemunha. Alguém que tem um ponto de vista a oferecer, e que está ali no processo, do seu lado e não contra você. Mesmo que haja também testemunhas de acusação (sempre haverá), este professor tentou se colocar diante de vocês como uma testemunha da defesa. Em defesa do encontro de um ponto de vista com outros pontos de “vida”.

A vocês, que entenderam a minha mensagem, eu me sinto agradecido. Lamento que não tenha sido possível ser compreendido de um modo mais amplo. Agradeço a vocês, que não se acomodaram, mesmo quando se incomodaram (porque são mesmo os incomodados que se mudam e mudam o mundo e não os acomodados), a vocês toda minha gratidão.

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