quarta-feira, fevereiro 17, 2021

Deriva - escrevendo como quem delira.

 

by wikimedia.org 

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Deriva.

Deriva é a única palavra que me vem à cabeça, quando deixo solto o fio de teia que desliza a partir do meu pensamento. Se não for a única, porque muitas outras deslizam por baixo e depois dela, é sempre a primeira. A primeira palavra é deriva… deriva desliza, desmancha-se e se desenrola no ar como uma fina trilha de fumaça bailarina que se desprende do insenso numa sala meio escura. Um filete suave que suspende meu raciocínio prático, e absorve a si mesmo nessa dança cheia de incertezas, rica e aleatória… um fio a deriva, solto começa toda a história.. Na borda da palavra deriva, outra palavra se prende… e depois dela outra, e mais outra, formando uma rede, uma teia um fractal de ideias… que custo a deixar sem acentos, em constante desrespeito à reforma da minha língua materna…  deriva... incerteza; bordas, dobras, identidades alteridades diversidades. Formas de ser; jeito de estar.. homem nordestino negro filho da mãe, criado com vó. Em família matrifocal (e não matriarcal), com descendência matrilinear; humanista convertido ao feminismo e depois disso, ao feminismos das pretas… ao ativismo negro. Negro ativismo… nunca negativismo. Primeiro me veio uma Fala preta! E depois a fala da Sueli Carneiro, marrenta e ao mesmo tempo cheia de amores! Mulheres de Geledés (que se lê Gueledéz, talvez Gueledé... nunca Jeledez!)… onde reconheci as mulheres da minha família ancestral. Não exatamente onde, mas também onde conheci a letra falada de Cidinha Nessa deriva, me atravessa como faca, toda aquela conversa sobre ser homem… essa de masculinidade; e as brincadeiras sexuais, nem sempre heterossexuais, quase nunca tolerantes; na maioria das vezes invasivas, violentas, mesmo quando (ou talvez mais ainda) "apenas" simbolicamente… na maioria das vezes, violentas.. Ser homem ou nada. A paternidade e o cuidado, ajudando a reformular essa experiência. Ser homem e cuidador… à deriva por novos fluxos… das linhas e fluxos maquínicos do discurso e do poder, do poder sobre o discurso... deparei-me com outros percursos... o RAP salva vidas, o filme invisível Amarelo de Emicida é o elo que melhor liga as redes dessa história. Porque no resto da rede o circo pega fogo e o palhaço não tem dado sinal  de que se importe... Ele prefere importar o remédio descartado pelo cowboy. Este exercício de escrita torta, esparramada na porta, eu fiz enquanto pensava na rota que deveria dar à linha da minha vida... e olha, que a palavra deveria, não me liga a outra melhor do que deriva... que teia! Para entender o que eu quis dizer ou o que diria, pense como pensaria, como delinearia esse mesmo novelo de pensamentos um autor emaranhado assim como um Fernand Deligny.
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