segunda-feira, outubro 28, 2019

Pela Coroa de Dadá! a minha coroa, Didi!


Tim Maia se apresentou em Recife...em maio de 1972. Na platéia, uma moça de 19 anos começou a sentir as contrações. Ia dar à luz, seus amigos tiveram que levá-la às pressas, e ela teve seu primeiro filho, dos quatro que nasceriam vivos ao longo de sua vida, na Maternidade Barro'Lima... cinco meses depois, em 29 de outubro, a moça completaria seus vinte anos.
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 Filha de uma auxiliar de enfermagem que ganhava a vida em trabalhos temporários, sobretudo como "cabo eleitoral" de políticos locais, com um boêmio incorrigível que acabou morto, num desentendimento de porta de bar, a menina passou a maior parte de sua infância num Colégio internato para moças, na Praça Chora Menino, onde hoje funciona o Instituto Nossa Senhora de Fátima... lá, segundo consta, ela não foi a melhor aluna, mas viveu boas histórias pra contar ao filhos e às filhas que teve.
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Uma infância atravessada por restrições materiais e por abundancia de afetos. Brigas, namoros, ressentimentos, e uma rede ampla de mulheres cuidadoras, para além da família de sangue... viveu um tempo na casa da madrinha no bairro da Imbiribeira... que seria divulgada no mundo por Chico Science... junto com "Bom Pastor ... Ibura, Ipsep, Torreão, Casa Amarela"... Localidades que a menina pôde visitar, às vezes acompanhando a mãe em campanhas eleitorais, às vezes acompanhando a avó que ajudou a aposentar pelo extinto INAMPS...
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A vida daquela moça não começou em 72. A minha com ela, sim. E hoje venho pensando nas coisas boas e ruins que passou antes que eu chegasse e depois de mim, minhas irmãs e meu irmão mais novo.
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Os amores, as dores, as alegrias e as esperanças constantemente renovadas...
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O gosto franco pelo cultivo de amizades solidárias, que não deixam de ver nossos defeitos (às vezes até inventam um que a gente não tem), mas nunca deixam de nos socorrer quando é necessário; o respeito honesto pelas diferenças que precisam existir e resitir nas periferias; a capacidade de acreditar em si mesma, e mostrar que a mulher poder ser o que ela quiser: atriz de teatro; detetive particular, palhaça de Fecim ( A Feira do Comércio e da Indústria do Nordeste - Fecin); moça do cafezinho; atendente de dentista (antes de inventarem o auxiliar de saude bucal); diretora de escola de Samba na terra do Maracatu; liderança comunitária e sindical; candidata em eleição pra vereadora; Iabá em casa de xangô; feminista cristã ou missionária evangélica... copeira de motel; telefonista, mãe, professora, doceira; vendedora; musa e inspiração.
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A mulher pode ser tudo, se seguir o exemplo de Irandira Maria Pedrosa!! Que me ensinou a clamar pela coroa de Dadá, a minha coroa, Didi; minha admiração incessante se renova todo ano em 29 de outubro.