quinta-feira, abril 06, 2023

FIM DA REGRA "NEGRO BOM É NEGRO MORTO" - REVOGADO O RACISMO DA FUNDAÇÃO PALMARES

Li hoje (em abril de 2023) no portal Geledés, a notícia de que a Fundação Palmares, atualmente presidida por um homem negro vivo, e não mais por aquele egum des(ori)entado - aquela carcaça vazia de negritude, possuída por uma legião de espíritos de senhores de Engenho - que volta a valer a regra de prestar homenagens no site da Fundação Palmares a personalidades negras notáveis, independente delas estarem vivas entre nós, ou de terem se juntado aos ancestrais. Notem que não faço oposição aqui entre negros vivos ou mortos. Isso é coisa de branco. Isso é o que fazia a antiga Portaria assinada pelo cadáver semovente de Sérgio Camargo. 

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A alegria dessa notícia, a ideia de que tantas pessoas negras importantes, que vivem hoje entre nós, possam voltar a constar na lista de destaques no site oficial da Fundação Palmares, foi uma alegria passageira. Essa alegria, mesmo associada à importância desse reconhecimento, e valorizando a permanência do Presidente João Jorge, escolhido acertadamente pela Ministra da Cultura, igualmente viva e louvável, Margareth Menezes, mesmo assim, essa alegria passou rapidamente. Ela foi substituída por uma compreensão crítica da realidade... triste realidade. 

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Em primeiro lugar, fica evidente o contraste entre a grandeza absoluta dessas personalidades e a menor importância relativa da Fundação Palmares, da qual elas nunca dependeram para serem quem são. Ou seja, o que pessoas como Martinho da Vila, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Marina da Silva, ELza Soares Benedita da Silva devem em sua trajetória à Fundação Palmares comandada por uma casca-morta de Zé Ninguém como Sérgio "Amargo"? É muito mais a Fundação Palmares que se engradece ao prestar homenagens a essas pessoas. 

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Em segundo lugar, quando excluiu aqueles nomes grandiosos da lista de personalidades homenageadas, sob o macabro argumento de que as homenagens são exclusivamente póstumas, Sergio Amargo revelou a verdadeira intenção do governo miliciano genocida ao colocá-lo na presidência da Fundação Palmares: reafirmar o lema racista de que negro bom, é negro morto.

O lema repetido na boca dos racistas ganhou corpo jurídico e forma governamental na Portaria portaria 189/2020, publicada de modo desaforado, no Diário da União em 11 de novembro de 2020, mês em que se comemorava a consciência negra. É muito triste que uma instituição criada para promover a igualdade e justiça racial tenha sido capturada por essas forças racistas tão violentas e nós - a população negra e toda a sociedade brasileira - tenhamos deixado isso acontecer. A ideia de que, para merecer uma HOMENAGEM DO GOVERNO uma pessoa negra tenha que estar MORTA é tão absurda e violenta, que parece uma piada racista, daquelas que ouvíamos em conversa de bar e shows de comediantes, com cabeça do século passado... homenagem póstuma é dizer  em termos jurídicos, com publicação no Diário Oficial da União que "Negro bom, é negro morto"

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É verdade que é bom que essa portaria tenha sido revogada. Mas, é muito triste que ela tenha sido vigente por tanto tempo. 
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Por outro lado, na esteira da revogação dessa portaria absurda, podemos falar do reconhecimento à  nossa ancestralidade (jamais em negro morto), por meio de outras ações do atual governo. Tomando o caso de um ancestral cujo valor, ele mesmo provou em vida e o governo brasileiro reconhece agora, muitos anos após a sua passagem, é o Orixá Luiz Gama, homenageado pelo Decreto nº 11.463, de 31 de março de 2023, que institui o Prêmio Luiz Gama de Diretos Humanos. A substituição desse prêmio, pela ultrapassada e racista homenagem feita à Princesa Isabel é mais uma vitória da Sankofa, uma vitória da busca na verdadeira ancestralidade, pelos parâmetros em que construímos  nosso futuro. Um futuro onde a negra e o negro serão vistos como bons, porque estarão vivendo para sempre. Seja entre nós, seja entre nossos ancestrais. Viva Luiz Gama! Viva Palmares!

Yê!!!