Chegou-me pelo "whatzapp" um texto atribuído à
jornalista Sônia Zaghetto (?). Não sei quem ela é, mas o que ela disse é ilustrativo da conclusão a que
cheguei assistindo ao mesmo discurso a que ela se refere: o discurso
do Lula após terminado o depoimento ao qual ele foi conduzido
coercitvamente.
O texto da moça começa assim:
"Assisti ao discurso do ex-presidente Lula da forma o mais isenta possível e mente aberta. Obviamente não esperei grandes mudanças, mas imaginei que haveria um pouco de autocontrole como demonstração de inteligência. Aguardei alguma demonstração de contenção, se não por gestão de imagem, mas como medida da a não aumentar a grande fogueira dos ódios deste país. Imaginei que, dado o momento inédito em sua vida, manifestaria algum respeito aos milhões de brasileiros cujas mentes não se curvam à retórica barata. Em vão: palavras vazias, em uma fala recheada de clichês e tolices, plena de auto louvação, piadas grosseiras, delírios narcisistas e frases piegas que comoveriam apenas pré-adolescentes ou amigos encharcados de boa vontade."
E por aí vai no mesmo monótono coro gregoriano, sem a mesma harmonia, reivindicando para si uma pretensa neutralidade analítica que na verdade deixa
transparecer no veneno que jorra, o mais simples e antiquado ódio de classe,
fermentado na indignação de madame que vê "a filha da empregada pulando na sua piscina". Refere-se a Lula, no mais tradicional preconceito de classe, com expressões arcaicas como: "Despido de riquezas
morais[...] Órfão de qualidades éticas, não consegue reconhecer
que ultrapassou todos os limites. Desabituado à reflexão, não vê
além dos limites das necessidades básicas.
É ou não é a foto da patroa indignada com a filha da empregada que entrou na piscina? Parece ou não parece uma das caricaturas encorporadas por Marcelo Adnet ou por Paulo Gustavo?
É óbvio que não se trata ali de ódio à corrupção, não se
trata de cruzada pela purificação da política.
Tudo isso é um problema de mero recalque. Não exclusivamente no
sentido freudiano, ainda que também, mas no sentido Valeskiano, ou
recalque à Popozuda. Trata se simplesmente daquela indignação
colonialista que não aguenta dividir as áreas do Aeroporto com
gente de chinelo e camiseta "como se estivesse na rodoviária". Aliás, é sintomático o fato de que, o ex-presidente tenha sido levado "coercitivamente" para prestar esclarecimentos, justamente no Aeroporto. Trata-se de ódio por ter que dividir a fila do empório onde compra
suas frutas orgânicas com um negrinho que parece o sobrinho da sua
empregada doméstica (que agora tá de carteira assinada! )
Não tem nada de isento no olhar de quem assistiu o discurso do
Lula.
Como ele mesmo disse, com seu estilo de quem nasceu na periferia,
cresceu na favela e sobreviveu graças a uma mãe batalhadora e ao
SESI e SENAI "Um merda de um metalúrgico" que se atreve a
cobrar por suas palestras mais caro do que o Doutor poliglota nascido
e criado nos braços da USP (gerando com isso um fato para investigação criminal(!) segundo o procurador da república, Carlos Fernando dos Santos Lima, o mesmo que enterrou a investigação de lavagem de dinheiro no Banestado.
Não dá pra engolir, um jeca bebedor de pinga que enche a boca cheio de orgulho para
dizer que não sabe a diferença entre um Miolo da serra gaúcha e o
mais caro vinho do Sul da França (eu bato palmas, enquanto Dona Sônia "isenta" precisa tomar um pouco de Bling com açúcar.)
Diante de uma figura como Lula, não há como alegar isenção. Esse tipo
mobiliza nossas pulsões mais profundas, ela afeta diretamente nossos
arquétipos identitários, ou você se identifica com ele, ou com
seus adversários... e aí, é preciso coragem para assumir de que lado
você está. Quem você é?
A pergunta quem fez primeiro foi Chico Science:
"- Você samba de que lado? De que lado você samba?"
Se é que você samba!
E para quem não samba, RAP:
E para quem não samba, RAP:
***
Acende o incenso de mirra francesa
Algodão fio 600, toalha de mesa
Elegância no trato é o bolo da cereja
Guardanapos gold agradável surpresa
Pra se sentir bem com seus convidados
Carros importados garantindo o translado
Blindados, seguranças fardados
De terno Armani, Loubotin sapatos
Temos de galão Dom Pérignon
Veuve Clicquot pra lavar suas mãos
(...)
Pra dar um clima cool te ofereço de brinde
Imãs de geladeira com Sartre e Nietzsche
Glitter, glamour, la maison criolê
O sistema exige perfil de tv
Desculpa se não me apresentei a você
Esse é meu cartão, trabalho no buffet
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(Cartão de Visita - Criolo)
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