Outro dia, não sei quando, não sei onde, não sei quem lá, disse não sei o quê... Ah! como é confortável essa linguagem do jornalismo de fontes ocultas! Que aliás, também vem sendo utilizada em despachos judiciais, os quais recentemente passaram a ser construídos com termos que são distribuídos ao redor da borda da beirada do arrodeio, tipo assim: “presume-se”, “possivelmente”, “é possível que” e “pode ser”… Mas, o fato é que eu li um texto que indicava o termo “isentão” como nova persona social posicionada no jogo de cena da política. O tal texto referia como vergonhosa aquela posição que de início pareceria isenta e em seguida declarava seu apoio ao governo da Dilma. Dá um Google aí, que você vai ver muita bobagem sobre isso... não interessa quem teve a ideia primeiro. Interessa menos ainda a relevância que esse tema tem. Mas, para quem precisa escrever - tipo Cidinha da Silva; tipo Carolina de Jesus; tipo uma mina ou um mano de uma periferia qualquer e tipo eu - tudo dá pauta.
Voltando então ao tipo isentão: os teóricos do Social que postulam sua existência, identificam a personagem como aquela figura - qualquer pessoa - que se atreva a fazer uma análise descolada dos pólos da disputa que atrai nos últimos meses a atenção da mídia mais poderosa. Bom, na verdade, não dá pra dizer se a disputa atrai a atenção da "grande mídia", ou se é justamente a mídia grande que atraiu a nossa atenção para essa disputa. Nos dias de hoje, quando jornalismo investigativo é jornalismo ao invés, e vingativo, já não dá mais pra saber se a imprensa, tipo O Globo, apoiou o golpe militar, ou se foram os militares que apoiaram o golpe da imprensa - tipo a Rede Globo (Isto é, Veja afinal se não são os mesmos "donos da notícia" que continuam abancados no poder desde aquela Época! Com seu jornalismo Isento!?!).
Por exemplo, o jornalista da CBN disse no rádio que os parlamentares estariam MUITO OCUPADOS durante o feriado da semana santa... “ocupados, por exemplo, com a discussão do impeachment da Presidenta Dilma Roussef” . Como assim, POR EXEMPLO???? Com o quê mais, suas excelências estarão envolvidos, meu querido jornalista????
Mas, voltando então ao isentão... os limpinhos e cheirosos - que se contrapõem aos blogs sujos estão repercutindo a imagem do isentão, como aquela figura que tenta se colocar à parte da disputa polarizada entre “coxinhas” e “mortadelas”; entre “golpistas” e “petralhas”, oferecendo uma análise tida como pretensamente isenta, mas que na verdade (na verdade dos limpinhos neo-liberais) procura beneficiar o governo e o PT, com toda a corrupção que este último levou ao primeiro. Nessa leitura, o “Isentão” não é nada mais do que um “petralha comedor de mortadela” tentando se disfarçar... e por isso, merece igualmente ser achincalhado, trolado, vaiado, empanelado, e espancado - é isso mesmo! Espancado - de preferência com o pau da bandeira do Brasil, na falta de uma boa lâmpada fluorescente!
Eis a lógica: se a sua análise racional leva a conclusão de que o Juiz Moro NÃO é um herói nacional, você é um petista - resta saber se é assumido ou enrustido! Se a sua análise de conjuntura diz que Bolsonaro não é o phodão, e que o Eduardo Cunha é um político mal intencionado, você é um “comedor de mortadela; um marmiteiro vermelho invasor de propriedade privada!”. Se sua lógica diz que o governo do PT foi eleito pelo voto e que por isso Dilma deveria concluir o mandato até 2018, então você é “um comedor de mortadela, Filho da puta! Viado! Nordestino desgraçado que vive do bolsa Família! Ou do Bolsa presídio! Vai pra Cuba!”
E por falar em Cuba, aos poucos começam a aparecer “isentões” no mundo todo. Obama, POR EXEMPLO... já foi pra Cuba!... Antes dele, teve o Papa Francisco. Mas esse nunca foi isento. Antes, foi acusado de colaborar com o Regime militar da Argentina, e recentemente passou a ser visto como Papa comunista.....
O curioso (que ilustra o que eu chamo de A contradição em processo), é que a virtude da “isenção” foi reivindicada justamente pela autora de um texto que transbordava ódio contra Lula, como mostrei na postagem anterior.