Anda bombando na internet o site de um pessoal de um tal Instituto Mises Brasil, um grupo que se considera Inteligentsia da economia mundial. Essa turma ganhou visibilidade com a derrota de Serra. Querem figurar agora como a "última linha da resistência" do liberalismos demotucano. Não admiram que em breve, ou desde já, comecem a marcar presença nos programas de jornalismo econômico, que se multiplicarão durante o governo Dilma. O Credo desses senhores é o mesmo de sempre: liberdade (para quem puder pagar); indivíduo (quanto menos melhor); (tradição, família) e propriedade. Seguidores de um economista (quase anônimo, pra não dizer obscuro), Ludovico vom Mises, e de um pensamento auto-intitulado "escola austríaca" de economia.
No site, proliferam artigos e textos em defesa de um estado mínimo de um liberalismo econômico e de um capitalismo selvagem. Contra o pensamento socialista, contra o Estado de bem estar social e contra qualquer controle do mercado.
A seguir meu comentário deixado em função de um post deles
E nessa linha de raciocínio, o que é bom para os austríacos é bom para nós, brasileiros e brasileiras. Aliás, é bom para os homens e mulheres de todo o mundo. Sofrível essa pretensiosa narrativa neo-positivista. Parecia razoável quando vocês se mantinham nos limites da discussão "capitalística" e economicista. Cheguei a considerar alguns aspectos dos textos como informação e como a legítima defesa de um ponto de vista à direita do meu. Mas, essa tentativa de resumir as questões da epistemologia humana à perspectiva neo-positivista e colonialista de vocês é arrogante e ingênua. Há muito que ser lido, por quem, até então só entende de economia, para que se possa explicar o surgimento do construcionismo social a partir do positivismo lógico. Alíás, os economistas têm esse mal, ruminam alguma coisa sobre a fragmentação do conhecimento, mas acreditam e agem como se a Economia fosse o conhecimento mais importante. Repetem o erro do "filósofo-rei".
Em relação às epistemologia, o mundo mudou muito e o olho que tudo vê, já não é mais o observador privilegiado e sem marcas que dominou o pensamento humano em meados do século passado. Somos uma humanidade diferente no terceiro milênio. Somos uma multiplicidade de seres (e não seres); não somos um nem somos único, não somos indivudal (somos fractários e fragmentados, somos circuito integrado), somos muito mais complexos do que o pensamento etnocêntrico de um cidadão europeu poderia descrever em 1945. Há muito mais na epistemologia do que sonha sua vã economia.
Em relação à oposição simplista do Estado contra o mercado (essa criatura de mãos invisíveis e "bobas"); essa oposição esquálida entre o socialismo e o liberalismo. Associando ao primeiro a tirania do Estado e ao segundo os princípios da auto-gestão é ingênua e maliciosa. Além de falaciosa. Vocês sabem que não defendem o radicalismo de uma vida sem o Estado. Afinal, precisam dele para garantir seu item mais precioso que é a propriedade individual. É em nome dessa, e não da liberdade, que vocês empreendem todo o seu esforço intelectual e político.
Respondam (não a mim, mas aos seus leitores, pelo bem do debate) o que vocês fariam sem o Estado e sem a Polícia para garantir a segurança de suas propriedades contra a horda de esfomeados que o regime de concentração de riquezas que vocês defendem produz? Que dispositivo vocês usariam para regular a conservação e a transferência de propriedade, no mundo liberal que vocês fingem defender? O mercado?
E o que dizer da apropriação injusta de terras, que durante milênios eram ocupados por grupos indígenas? O liberalismo de vocês defende. E a manutenção da ordem nas fábricas quando os trabalhadores explorados se organizarem e exigirem participação nos lucros da empresa? cadê o liberalismo e a livre iniciativa?
Aqui segue uma lista de perguntas para saber o quanto liberal vocês são?
- Porque o aborto é um crime?
- O que há de errado com o casamento homossexual?
- Por que não legalizar a maconha?
- Por que os pais são obrigados a matricular seus filhos numa escola?
- Por que ao invés de sermos autodidata em qualquer profissão, só podemos atuar com diploma de uma universidade reconhecida?
- Por que a Justiça/polícia precisa ser acionada, quando uma porção de terra que não uso é ocupada por um grupo de famílias que quer plantar e vender livremente?
- Por que, se tenho fome, não posso apanhar comida na prateleira de um supermercado qualquer?
- Por que é crime copiar e distribuir material como filmes e músicas, se já existe tecnologia e conhecimento para isso?
- Por que ainda é crime criar e vender história com personagens como Mickey e Batman?
- por que os Estados Unidos impõe sanções econômicas a cuba, quando negocia com a China e outros regimes tirânicos do Oriente Médio?
- Por que o governo americano socorreu com ajuda financeira os bancos e as indústrias durante a crise da bolsa?
Por onde anda, e até onde vai, o liberalismo?
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