A Propaganda brasileira, na propaganda que faz de si mesma, não cansa de repetir-se elogios sobre a criatividade, sobre a inventividade, sobre a riqueza de imaginação que caracteriza os profissionais da publicidade nacional. Prêmios e mais prêmios são distribuídos e anunciados nos veículos da grande imprensa (que não passa de um braço do sistema publicitário comercial) para reforçar essa pretensa genialidade criativa, configurando um verdadeiro circuito auto-fágico, um autêntico narcisismo canibal.
Aí, como se fosse para desmascarar essa farsa mal contada, vira e mexe os produtos que conhecemos aparecem divulgados em campanhas mais do que estúpidas. Que, se não comprometem as vendas, é só porque as pessoas já se habituaram a consumir aquele produto de um jeito que basta mencionar o nome ou mostrar a embalagem que está vendido.
É o caso da Maionese Hell-manns (essa pasta de ovo podre e conservantes que há muito tempo jogamos sobre nossos sanduiches e saladas). Em anúncio produzido pela agência Ogilvy, um grupo de homens negros aparece fantasiado de canibais em torno de um homem branco fantasiado de "Indiana Jones". E, uma cena clássica do cinema americano colonialista é retratada com uma variante de conteúdo: os canibais viram vegetarianos por causa da maionese.
Antes de ser apresentada por completo, essa propaganda invadiu vários espaços cotidianos sem ser associada ao produto. Atores fantasiados de canibais passearam pelas ruas de São Paulo, e por outros locais públicos, criaram comunidades e perfis no Orkut que deixavam as pessoas "curiosas", numa "engenhosa"(ha-ha-ha) estratégia de marketing, baseada em jogos de mídia de realidade virtual e interatividade. Algo genial... como foi mesmo que disse aquele cara do rádio por volta de 195o? Ah:"Os marcianos estão invadindo a terra!".
Além de não ter nada de inovador nessa estratégia marketeira, ela coloca sobre si um tema brasileiro que, deveria ser deixado de lado por quem não for capaz abordá-lo com o mínimo de critérios: a questão das relações raciais.
Negros são selvagens primitivos e brancos são modernos exploradores que trazem consigo o progresso e os bons hábitos. Essa é a mensagem que encontramos nas fotos de outdoors e nos 3 minutos de filme nos quais se divulga a Verdadeira Maionese...
Sobre essa discussão, muitos têm-se colocado a favor da propaganda, porque ela é divertida e retrata uma realidade, passada, mas real. Os negros eram mesmo os canibais. Claro que o fato dessa realidade ter surgido em Hollywood, nas fantasias estadunidenses sobre uma certa Africa não faz nenhuma diferença para os racistas disfarçados de pacatos consumidores da Verdadeira Maionese. O que importa é que falar sobre isso é que é o racismo. Rir do Negão Fantasiado ao lado do "cal-bói" segurando um pote de Hellmanns não é racismo é admirar a criatividade da propaganda brasileira.
Eu, prefiro admirar a criatividade de Pestana, um cartunista verdadeiramente genial:
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