Tem um texto da Maria Rita Kehl, de 2003... (que eu li assim que foi disponível on line) em que ela faz uma crítica da família nuclear, herdeira da ideologia burguesa propondo uma defesa da "família tentacular" ... o assunto é legal, e articula um bocado de gente "branca legal" - (como diz Yuri Marçal) tem lá no texto aquele pessoal "brancos muito legais" que a tia Lélia Gonzales já manjava... Dona Elza Berquó... a Elizabeth Roudinesco, Seu Roberto Schwartz...
E eu que faço por aqui meu "serviço de preto" (ou seja, altamente preocupado com o resultado) [sim, porque "serviço de preto", cara pessoa que lê estas palavras, não é isso que dizem de "trabalho mal feito" ou "trabalho de baixa qualidade"... Serviço de Preto, que eu digo, é aquele serviço que a gente faz com atenção redobrada, por que sabe que vão criticar... ], Então eu, fazendo meu serviço de preto, gosto - ou gostava - muito de usar esse texto da Dona Maria Rita, pra explicar nas minhas perícias que "nem toda família precisa ser igual... nem tudo é "papai e mamãe"... nem tudo se resolve no núcleo, também precisamos respirar pela periferia...
Só que eu não tenho usado muito esse texto, por causa de uma questão... O texto é legal, mas Dona Maria Rita, não... quer dizer, ela até pode ser uma psicanalista legal... Mas, não tem sido uma "branca legal."
Vocês pensam que eu estou falando da Dona Rita, porque ela disse que o vôzinho r.acista dela o Seu Renato Kehl, era um docinho de pessoa...? E ficou chateada porque foi chamada de "branca" numa transmissão de live no youtube? Podia ser, mas não é ... e é também. mas não só...
A questão decisiva pra mim, é essa foto, que coloco aqui ... Ela está no mesmo blog em que está o texto dela "Em defesa da Família tentacular". Acredito que deve ser o registro de um evento onde ela era uma intelectual convidada para palestrar - obviamente deve ter sido bem paga... e certamente bem tratada, mas, a partir daquele evento o seu pensamento ficará associado à Marca da empresa que financiou a palestra...
Qual empresa? A braskem... Quem?
Isso mesmo.. Braskem... uma mineradora muito famosa, ligada à destruição de uma parte da cidade de Maceió... [se você não lembra, recomendo que pesquise]
Tá certo, podemos dizer que "isso não vem ao caso" - podemos dizer que é uma questão completamente alheia à discussão sobre o texto e sobre a pertinência do seu uso. Mas, isso poderia ser verdade, se a gente fosse tudo branco... mas, nós não é parça... ou como dizem: "não somos." A partir desse "não-somos" surge uma série de linhas derivadas, que amarram outros questionamentos sobre "política de citação" "branquitude e privilégicos raciais" "normalização da exclusão racial" "pacto narcísico da branquitude"... e o fio de contas não fecha... Aqui vem uma diferença abismal entre o "serviço de preto" no sentido que a gente deve usar e o "Pensamento Braskem" que caracteriza a intelectualidade branca beneficiária do pacto narcísico. Enquanto a gente pisa em ovos, pra falar ou escrever qualquer coisa, sabendo que ter "todos os olhos em nós" nem sempre é uma experiência de celebração, a branquitude demarca as fronteiras dentro e fora das quais o pensamento pode circular... espalhando tentáculos e buracos por onde o capitalismo consome a vida. Notem, que quando a discussão girava em torno da mulher, ou das mulheres, ou do gênero feminino - o movimento feminista nunca foi percebido ou representado como uma tendência "indentitária" Por isso eu estou procurando outros textos para entender as famílias brasileiras, superando o modelo eurocêntrico burguês da "família nuclear", em busca de arranjos familiares que sobrevivam com energias limpas e recursos renováveis... que não sejam tão nocivos ao meio ambiente.
REF.:
1) Maria Rita Kehl: em defesa da família tentacular
https://www.fronteiras.com/leia/exibir/maria-rita-kehl-em-defesa-da-familia-tentacular
2) Yuri Marçal usa Gabriela Prioli para driblar 'algoritmo racista' de rede social... - Leia mais em: https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/celebridades/yuri-marcal-usa-gabriela-prioli-para-driblar-algoritmo-racista-de-rede-social-44070?cpid=txt
3) Lélia Gonzales, Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira
https://bibliotecadigital.mdh.gov.br/jspui/handle/192/10316
4) Pra não dizer que não falei de Maria Rita Kehl
https://www.nexojornal.com.br/maria-rita-kehl-identitarismo
5) Maria Kehl é criticada por chamar grupos identitários de “narcísicos”...
https://www.poder360.com.br/poder-gente/maria-kehl-e-criticada-ao-chamar-grupos-identitarios-de-narcisicos/ © 2025. Todos os direitos são reservados ao Poder360, conforme a Lei nº 9.610/98.
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