sexta-feira, novembro 01, 2024

A ESQUERDA SEM PARTIDO - MATRÍCULAS ABERTAS NA ESCOLINHA DA DIREITA.

 


Com fim das eleições municipais volta a circular nos pontos da minha teia virtual uma análise de tom derrotista e fortemente crítico.

De comentaristas anônimos a pessoas com mais influências que costumam se posicionar como “de esquerda” ou “progressistas” todas concordam que o erro foi dos partidos de esquerda que não souberam “se comunicar” com a população, os partidos de esquerda é que são incompetentes para falar a linguagem da periferia, expressar os desejos dos pobres e excluídos… em geral, essas análises, inconformadas, muitas vezes cheia de raiva, partem de pessoas que “se dizem de esquerda” mas não estão ou nunca estiveram em nenhum partido político, pessoas que “se defendem” da “suspeita” afirmando que “não querem cargo político” recusam até dinheiro para não trabalhar para político.


Pelo que vejo, essas pessoas de esquerda “anti-partidárias” ignoram um elemento fundamental: no mundo moderno, a ocupação do governo e dos aparelhos do Estado é mediada, necessariamente, pelos partidos políticos. Por isso, quem não está ligado a um partido, pagando seu preço político pela participação, está automaticamente alienado de qualquer participação ou interferência nos rumos da política. É verdade que movimentos sociais organizados, de alguns sujeitos com interesses específicos, como pessoas com deficiência, médicos e advogados, e grupos empresariais, até de mineradoras e multinacionais do petróleo conseguem influenciar nesses rumos, mas sempre por meio de “sensibilização” ou simplesmente “compra” direta dos parlamentares e partidos. Ou seja, não tem como fazer parte, senão por meio dos partidos…

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Print de página The Intercept



É por isso que a Direita não rejeita mais, explicitamente, a ideia de se envolver com política partidária. E até lideranças, antes à esquerda, buscam apoio e participação política em partidos de centro e direita...

Neste cenário, é sintomático que dos quase 156 milhões de pessoas com título, apenas 15,7 milhões seja filiada a algum partido político… sendo que dos 33 partidos existentes hoje (2024) o MDB, e outras seis legendas registraram número superior a um milhão de filiados: PT, PSDB, PP, PDT, União Brasil e PTB. Juntos, os sete partidos concentram dois de cada três eleitores filiados no Brasil, ou seja, 9.442.746, o equivalente a 67,3% do total. enquanto cinco partidos menores, não juntam a quantidade de sócios da torcidas dos clubes de futebol. PCO, PSTU, PCB e UP exemplos de partidos mais populares dividem com o Novo, pouco mais de 159 mil pessoas filiadas (cinco partidos!) Enquanto o Palmeiras tem uma lista de 182 mil sócios. 

É por isso que Silas Malafaia e Edir Macedo, estão ligados a partidos políticos; o MBL tem um partido; vários negros conservadores do Youtube têm um partido, o Coronel da PM e o Delegado da polícia Civil estão no Partido Político, o banqueiro e o empresário do fundo de investimentos bilionário têm um partido “novo em folha”... Até o Juiz e o Promotor Público da Lava-Jato arrumaram um partido… mas o motoboy, esse não tem partido; a enfermeira, sem piso, não tem partido; a professora contratada sem concurso e humilhada pela secretária de educação não tem partido… o seu avô aposentado não tem partido. E se o dirigente do Sindicato quiser se envolver com partido, ele vai ser apedrejado pelos demais colegas de profissão que gritam: “sindicato não é lugar de política!"

Enquanto a esquerda ou a classe trabalhadora "anti-partidária" xinga revoltada e reclama contra os partidos de esquerda, a direita se abraça com o centrão formando maioria partidária e esmaga o bloquinho de partidos "de esquerda" na hora de decidir por exemplo, pela taxação das grandes fortunas. Nessa hora, nem 100% dos votos do PT, Psol, PCdoB juntos foi suficiente pra tornar o Brasil mais justo na questão tributária...

Se os partidos de esquerda erram ao não saberem "se comunicar" com as pessoas da periferia, também erra quem reivindica uma esquerda "sem-partido". Erram como trabalhadores que pensam que terão mais direitos no trabalho "sem sindicato" ou com sindicato, mas "sem política!"


Para saber o número de total de eleitoras


Para saber o número total de filiados a partidos políticos


Para consultar o número de sócios de clube


Para entender um pouco mais sobre a composição dos partidos de esquerda:



terça-feira, junho 25, 2024

O que é o Virtual 2 (antes sem agora)

 


Esta mensagem é pra você que me conhece pessoalmente e faz parte das minhas “redes sociais” ou pra você, que simplesmente resolveu seguir este perfil de Instagram correlatos e por isso faz parte de minhas “redes virtuais”. 



Você provavelmente já deve saber (ou não) como eu diferencio uma da outra. Mas, se ainda não prestou atenção, eu vou repetir. Comecei a falar (pensar e ler) sobre isso, tem uns dias aí pra trás (em 2006).

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Quando falo em redes sociais eu me refiro a um conjunto abrangente de relações fixas e articuladas, que me ligam a outras pessoas e grupos com os quais convivo e mantenho afinidades ou divergências, em um dado momento histórico, no mundo físico, pontuado por encontros cotidianos ou eventuais. [relações sociais acontecem no cotidiano, no dia a dia, na história. E se distribuem no espaço-tempo com coordenadas geográficas distintas]

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Quando falo em redes virtuais eu me refiro a um conjunto igualmente abrangente e articulado de relações que ligam o meu perfil virtual a outros perfis virtuais de pessoas e grupos, para além deste momento histórico, no mundo informático, caracterizado por encontros “virtuais” que simulam o cotidiano, agrupados em conjunto de informações que ocupam simultaneamente o mesmo espaço físico; compartilhando coordenadas distintas por meios periféricos ao longo do tempo, e/ou ocupando as mesmas coordenadas numa central de processamentos no mesmo instante.

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Mas, cuidado. Não estou dizendo que só um é “real”. A oposição não é essa. Tanto redes sociais como redes virtuais operam no nível “real” e no nível “imaginário”. Assim como ambas se constituem simbolicamente. A diferença é que enquanto o “social” é sempre “atual” porque acontece no tempo da sociedade, o “virtual” é justamente o que se contrapõe ao “atual”, por estar completamente fora do aqui e agora. Virtual é o Devir; social é o advento. 

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É muito importante que vocês reconheçam a distinção, porque a confusão entre “virtual” e “social” é um dos elementos que aumenta o poder de quem controla politicamente e explora comercialmente o acesso e a circulação de bens aqui nas redes virtuais.

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Em síntese: aqui estamos em relações “virtuais”. Enquanto na nossa rua, em nossa família, nos locais em que trabalhamos, estamos em relações “sociais”. A galera ganha dinheiro manipulando “redes virtuais” para que elas pareçam cada vez mais com “redes sociais”. Mas, preste atenção: isso não é social. Mesmo quando esteja sendo manipulado por meio de “tecnologias sociais” (evocando emoções, construindo opinião, estimulando atitudes, modulando comportamentos e preferências). Aqui é tudo virtual.

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Para saber mais sobre isso, procure conversar com alguém que estuda Psicologia Social. Ou estude por conta própria...

segunda-feira, maio 13, 2024

2024 OU VOCÊ VOTA NO POVO PARA GOVERNAR OU O POVO VOTA EM VOCÊ

Toda vez é a mesma coisa… aparece uma tragédia e “o povo” se junta para se ajudar.

E “o povo” já vem reclamando que “o governo” não faz nada pelo povo… é sempre um tal de: “por nós, só nós.” “É nós por nós”… “Tudo que nós tem é nós” (um salve pra Emicida)

Então tá. É verdade que os nossos governantes, em geral, não fazem mesmo nada pelo povo.

Mas, me explica aí: não é o povo que seleciona esses governantes por meio das eleições?

Que eu saiba, a gente não vive numa monarquia (eu sei que tem uns e outros que queriam,
mas, não meu rei, não vivemos!). A gente não vive numa ditadura (eu sei que tem gente aí,
na porta dos quartéis chorando por um talinho de ditadura, mas a dita dura não entrou).

Aliás, é bom que se diga: a ditadura e a monarquia, meio que continuam existindo em alguns lugares, bem específicos.

A ditadura militar continua valendo nas favelas, ela explode violenta de domingo a domingo, nos becos, clubes e campinhos, principalmente onde encontra os jovens negros em momentos de alegria. Já a monarquia segue sendo soberana nos Alphavilles repletos de carro importado. Nos condomínios fechados, os imperadores brancos continuam compensando sua disfunção erétil com o revólver que esfregam na cara e nas costelas dos entregadores, com os gritos e escárnios que cospem até contra a Polícia Militar.

Lógico que tanto os moradores do reino do condomínio fechado, quanto os sobreviventes do campo de guerra das favelas pagam seus tributos ao tal do “governo”. Que vive mais como um “morador de condomínio” e sempre deixa “o povo” na mão.

Esse governo de homens é bem diferente do rio e de todas as forças naturais que, quando ativam seu poder, arrastam tudo sem discriminação. A lama de Nanã quando desce o morro, vem abraçando com a mesma generosidade, casebres e mansões. As águas de Oxum quando tocam nos telhados dos galpões Shein de artigos importados, mantém a mesma dignidade com que cobre os telhados dos galinheiros e dos canis. O lodo, o bolor e os vermes de Omolu se alastram pelo corredor de vidro e azulejo dos hotéis, com a mesma determinação com que se infiltram pelo portãozinho enferrujado dos quilombos. A natureza é uma força que nos nivela, iguala e revela que, se não formos nós por todos nós e pelo mundo, não vai ter governo nenhum…

Mas, voltando à minha pergunta: não é o povo que monta o governo?


Na hora de escolher os governantes, porque não é “nós por nós”? Porque “o povo” escolhe seus governantes entre os que governam sem o povo; ou até contra o povo? Porque sempre são eleitos para governar os “moradores de condomínio” enquanto o povo das favelas, não é escolhido?

Me parece que “o povo” ao contrário das forças naturais, não entendeu ainda que somos todos iguais. “o povo” age como se alguns entre nós, fossem especiais e por isso mais aptos a nos governar. Essa é a maior e mais importante mentira que os governantes conseguiram sustentar até hoje. A mentira que diz que “povo” e “governo” precisam ser diferentes.

Parece até que “o povo” tem medo de se reconhecer no “governo”… Tanto é que, sempre que “um do povo” passa a ser ou tenta fazer parte do “governo” assumindo ou se candidatando a um “cargo político” esse “um do povo” geralmente passa a ser visto com desconfiança. “o povo” já não se reconhece naquela pessoa que procura estar no “governo” - “vendido”, “traidor”, “corrupto”. Por mais que a pessoa, vinda “do povo” tente se manter crítica e fiel à sua herança, mais cedo ou mais tarde, na visão do “povo”, ela cumpre a profecia e confirma as acusações e desconfiança “do povo”…

Mas, eu me pergunto: é a pessoa que quando entra pra política e participa do governo, se afasta do povo? Ou é o povo que, acreditando muito naquilo que “o governo” diz, afasta-se das pessoas que vieram do povo?

Quantas vezes não vemos uma pessoa do povo, agindo publicamente em benefício do povo e essa pessoa, mesmo sendo do povo, começa a ser alvo de críticas, de suspeitas sobre suas intenções. Muitas vezes essas desconfianças são plantadas artificialmente no meio do povo, por aqueles que mais se beneficiam “do governo” que são os grandes empresários e herdeiros de grandes fortunas, ou seja, não são “o povo”.

Vejam o exemplo daquele motoboy que tentou mobilizar uma greve, e viu sua movimentação ser atacada por uma agência de publicidade contratada para esse serviço. Pesquisem no site da AGENCIA PÚBLICA [1]. Uma das acusações era de que ele “queria se candidatar a vereador” (e por isso deixaria de ser “do povo”). Do lado oposto, é curioso como entre aqueles que não defendem realmente o interesse do povo, eles rapidamente se lançam e se elegem em cargos políticos, assumindo tranquilamente a sua condição natural de “governantes”. Sem nunca terem sido realmente “do povo”.

Diante dessa contradição em processo, esse elo entre “povo” que não governa e “governo” que nunca faz nada pelo povo, espero que “o povo” pare de fazer pelo governo, e passe a eleger entre os seus, eleger entre os que são realmente do povo. Sem medo. Um governo popular, sem ditaduras e sem monarquias. Sem militares nem reis, simplesmente feito pelo “povo”. Um governo do povo sem medo e sem desconfiança, para chegarmos numa verdadeira democracia civil.

Já que tem sido assim “nós por nós”. Vamos levar esse lema a sério. Sejamos por nós também nas eleições. Escolha uma candidata ou um candidato em que você veja realmente “o povo”. Se você estiver com dúvidas, tenho algumas dicas que vão ajudar você a se decidir, já para essa eleição de 2024. Em primeiro lugar, não tenha medo do povo. Não desconfie do povo, acredite no povo.

Sabe aquele influenciador de internet com milhões de seguidores, perseguindo professores pelo assunto ou livro que eles usam em sala de aula. Isso não é “o povo”; os que se apresentam como:
“O General do Exército”, “Major ou Coronel da PM”, ou mesmo o “Delegado” ou “O Pastor da Igreja Maioral do Senhor do Universo”. Nada disso é título para quem é “do povo”. Sabe aquela pastora de uma igreja “evangélica”, que invés de pregar o “evangelho”, faz vídeo falando do diabo, do demônio, do inferno e de política? Demonizando candidatos e partidos políticos? Isso também não é povo. Sabe aquele empresário rico, que explora os funcionários, e invés de pagar os direitos da sua equipe de vendas, vive fazendo live para criticar o político X ou Y? Isso também não é povo. O apresentador da TV, herdeiro de família milionária, dono de iates e jatinhos particulares? Ele também não é “povo”. Tudo isso é “morador de Alphaville”.

Povo é a professora da escola pública, que luta pra conseguir um salário melhor. Povo é o motoboy que trabalha por hora e faz protesto para melhorar as condições de trabalho do setor dele; Povo é o taxista ou o Motorista de Uber (mesmo que um brigue com o outro), ambos trabalhando no carro dos outros, para levar comida pra casa… se eles arrumarem tempo pra se candidatar, vote neles porque isso é “povo”. Povo é o funcionário público concursado, que tinha capacidade para “ser patrão”, mas preferiu a vida de “servidor”, e apoia o sindicato como trabalhador. Isso é povo! Povo é o vendedor ambulante ou a Dona Maria feirante que se importam e são atingidos pela legislação urbana que beneficia os grandes empresários e destrói o meio ambiente nas cidades, com a mesma violência que ataca os camelôs. Povo é o estudante da rede pública, preocupado com a universidade pública, gratuita e de qualidade, envolvido no movimento estudantil, desde o ensino médio. A mãe de santo, que vive no mesmo bairro desde criança, que cuida do seu terreiro, de seus Orixás e da saúde da vizinhança… ajuda quem precisa com conforto espiritual e plantas medicinais. O padre ou pastor de pequenas igrejas que não alimentam ódio, que se ocupam de celebrar Jesus cuidando dos pobres, sem chantagear eleitores, que não trocam votos por marmitas, esses são “o povo”. A mãe de família que vive nos assentamentos de Reforma Agrária e nos territórios quilombolas, indígenas, trabalhando com técnicas ancestrais, cultivando sem agrotóxico, se alimentando do que produz, vivendo do turismo ecológico e do extrativismo, é "o povo". Acredite nessas pessoas; se uma delas se candidatar, vote nela para que possam ser governo, mas não se afaste delas. Fique com elas para lembrá-las que elas estão “no governo” mas serão pra sempre “do povo”.

  Brasil de Fato [2]

Lembre-se que “o povo” é você (porque governante rico, não se dá ao luxo de ler este blog). Insisto que você é povo… e se você não se reconhece em nenhum desses candidatos que eu indiquei como “gente do povo”, seja você a pessoa que representa “o povo” no governo. Se você, sendo “povo” se candidatar, creio que eu e o povo, podemos votar em você. É nós por nós.

Chegaram as eleições 2024.

E aí, como vai ser? Você vota no povo ou o povo vota em você?

[1]. Reportagem: a Máquina Oculta de propaganda do iFood

[2]. Reportagem: Documentário “O Povo Pode?” no site do Brasil de Fato 

[3] Link para vídeo documentário [o Povo Pode]